(ESPIRITISMO EXPERIMENTAL)
O LIVRO DOS MÉDIUNS
(Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores)
ALLAN KARDEC
Contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.
Continuação de O LIVRO DOS ESPÍRITOS
(Revista e corrigida com a ajuda dos Espíritos, e acrescida de numerosas instruções novas, dadas na época a Allan Kardec)
Contém 274 notas de rodapé feitas pelo tradutor
Tradução da segunda edição Francesa de
DIDIER ET CIE. LIBRAIRES-ÉDITEURS
Paris, 1862
por
J. HERCULANO PIRES
LAKE - Livraria Allan Kardec Editora (Instituição Filantrópica)
187. Podem-se dividir os médiuns em duas grandes categorias:
Médiuns de efeitos físicos - Os que têm o poder de provocar os efeitos materiais ou as manifestações ostensivas. (Ver n°. 160)
Médiuns de efeitos intelectuais - Os que são mais especialmente aptos a receber e a transmitir as comunicações inteligentes. (Ver n°. 65 e seguintes) (2)
Todas as demais variedades se ligam mais ou menos diretamente a uma ou a outra dessas duas categorias, e algumas participam de ambas. Analisando os diversos fenômenos produzidos sob influência mediúnica vê-se que há em todos um efeito físico, e que aos efeitos físicos se junta quase sempre um efeito inteligente.
É às vezes difícil estabelecer o limite entre ambos, mas isso não acarreta nenhuma dificuldade. Incluímos na classificação de médiuns de efeitos intelectuais os que podem mais especialmente servir de instrumentos para comunicações regulares e contínuas. (Ver n°. 133)
188. Variedades comuns a todos os gêneros de mediunidade:
Médiuns sensitivos - Pessoas suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma sensação geral ou local, vaga ou material. Na sua maioria distinguem os Espíritos bons ou
maus pela natureza da sensação que causam. (Ver n°. 164) Os médiuns delicados e demasiado sensíveis devem abster-se de comunicações com Espíritos violentos ou cuja sensação é penosa, por causa da fadiga resultante.
Médiuns naturais ou inconscientes - Os que produzem fenômenos espontaneamente, sem querer, e na maioria das vezes à sua revelia. (Ver n°. 161)
Médiuns facultativos ou voluntários - Os que têm o poder de provocar os fenômenos por um ato da própria vontade. (Ver n°. 160)
Por maior que seja essa vontade, eles nada podem se os Espíritos se recusam, o que prova a intervenção de uma potência estranha (3).
189. Variedades especiais para os efeitos físicos:
Médiuns tiptólogos - Os que produzem ruídos e pancadas. Variedade muito comum, com ou sem a participação da vontade.
Médiuns motores - Os que produzem movimentos dos corpos inertes. Muito comuns (Ver n°.61) (4)
Médiuns de translações e suspensões - Os que produzem a translação de objetos através do espaço ou a sua suspensão, sem qualquer ponto de apoio. Há também os que podem elevar-se a si próprios. Mais ou menos raros, segundo a intensidade do fenômeno. Muito raros, no último caso. (Ver n°. 75 e seguintes; n° 80)
Médiuns de efeitos musicais - Os que provocam a execução de músicas em certos instrumentos sem contato. Muito raros. (Ver n° 74, pergunta 24)
Médiuns de transporte - Os que podem servir aos Espíritos para transporte de objetos materiais. Variedade dos médiuns motores e translação. Excepcionais. (Ver n°. 96)
Médiuns de aparições - Que provocam as aparições fluídicas ou tangíveis, visíveis para os assistentes. Muito raros. (Ver n°. 100, pergunta 27; e n°. 104)
Médiuns noturnos - Os que só obtêm certos efeitos físicos na obscuridade. Eis a resposta de um Espírito sobre a possibilidade de considerarem esses médiuns como uma variedade:
Médiuns pneumatógrafos - Os que obtêm a escrita direta. Fenômeno muito raro e sobretudo muito fácil de imitar pela charlatanice. (Ver n°. 177)
Observação - Os Espíritos insistiram, contra a nossa opinião, para colocarmos a escrita direta entre fenômenos de ordem física, pela razão, segundo disseram, de que: "os efeitos inteligentes são os que o Espírito produz servindo-se dos elementos existentes no cérebro do médium, o que não é o caso da escrita direta. A ação do médium é nesta inteiramente material, enquanto no médium escrevente, mesmo que seja completamente mecânica, o cérebro tem sempre um papel ativo (6).
Médiuns curadores - Os que têm o poder de curar ou de aliviar os males pela imposição das mãos ou pela prece.
Médiuns excitadores - Os que têm a faculdade de desenvolver nos outros, por sua influência, a faculdade de escrever.
190. Médiuns especiais para efeitos intelectuais; aptidões diversas.
Médiuns audientes - Os que ouvem os espíritos. Muito comuns. (Ver n°. 165) Há muitas pessoas que imaginam ouvir o que só existe na sua própria imaginação.
Médiuns falantes - Os que falam sob influência dos Espíritos. Muito comuns. (Ver n°. 166)
Médiuns videntes - Os que vêem os Espíritos em estado de vigília. A visão acidental e fortuita de um Espírito, em determinada circunstância, é muito freqüente, mas a visão habitual ou facultativa dos Espíritos, sem qualquer distinção, é excepcional. (Ver n°. 167)
Médiuns inspirados - Os que recebem os pensamentos sugeridos pelos Espíritos, na maioria das vezes sem o saberem, seja para as atitudes ordinárias da vida ou para os grandes trabalhos intelectuais. (Ver n°. 182)
Médiuns de pressentimento - Os que, em certas circunstâncias, têm uma vaga intuição de ocorrências vulgares do futuro. (Ver n°. 184)
Médiuns proféticos - Variedade de médiuns inspirados ou de pressentimento que recebem, com a permissão de Deus e com maior precisão que os médiuns de pressentimento, a revelação de ocorrências futuras de interesse geral, que estão encarregados de transmitir aos outros para fins instrutivos.
Médiuns sonâmbulos - Os que, em transe sonambúlico, são assistidos por Espíritos. (Ver n°. 172)
Médiuns extáticos - Os que, em estado de êxtase, recebem revelações dos Espíritos.
Médiuns pintores ou desenhistas - Os que pintam ou desenham: sob influência dos Espíritos. Tratamos dos que obtêm produções sérias, pois não se poderia dar esse nome a certos médiuns que os Espíritos zombadores fazem produzir coisas grotescas que desacreditariam o estudante mais atrasado.
Os Espíritos levianos são imitadores. Quando apareceram os notáveis desenhos de Júpiter, surgiu grande número de pretensos desenhistas, com os quais os Espíritos brincalhões se divertiram, fazendo-os produzir as coisas mais ridículas. Um deles, para eclipsar os desenhos de júpiter, senão pela qualidade ao menos pelo tamanho, fez um médium desenhar um monumento que exigiu o número suficiente de folhas de papel para atingires seus dois andares. Muitos outros fizeram desenhar supostos retratos que eram verdadeiras caricaturas. (Ver Revista Espírita de agosto de 1858).
Médiuns musicais: Os que executam, compõem ou escrevem músicas sob influência dos Espíritos. Há médiuns musicais mecânicos, semi-mecânicos, intuitivos e inspirados, como se dá com as comunicações literárias. (Ver o tópico sobre Médiuns de Efeitos Musicais)
183. Todos os homens de gênio, artistas, sábios, literatos, são sem dúvida Espíritos adiantados, capazes de conceber grandes coisas e trazê-las em si mesmos. Ora, é precisamente por julgá-los capazes os Espíritos, quando querem realizar certos trabalhos, lhes sugerem as idéias necessárias. E é assim que eles são, na maioria das vezes, médiuns sem o saberem. Eles têm, não obstante, uma vaga intuição de serem assistidos, pois aquele que apela à inspiração faz uma evocação. Se não esperasse ser ouvido, porque haveria de clamar com tanta freqüência: Meu bom gênio, venha ajudar-me!
As respostas seguintes confirmam esta asserção:
- Qual a causa primeira da inspiração?
- A comunicação mental do Espírito.
- A inspiração não se destina apenas a grandes revelações?
- Não. Ela se relaciona quase sempre com as mais comuns circunstâncias da vida. Por exemplo: queres ir a algum lugar e uma voz secreta te diz que não, porque corres perigo; ou ainda essa voz te sugere fazer uma coisa em que não pensavas. Isso é inspiração, bempoucas pessoas que não tenham sido inspiradas em diversas ocasiões.
- Um escritor, um pintor, um músico, por exemplo, nos momento de inspiração poderiam ser considerados médiuns?
- Sim, pois nesses momentos têm a alma mais livre e como separada da matéria, que então recobra em parte as suas faculdades de Espírito e recebe mais facilmente as comunicações dos Espíritos que a inspiram (7).
20. Como se explica a aptidão de certos médiuns para escreverem versos, apesar de sua ignorância em matéria de poesia?
- A poesia é uma linguagem. Eles podem escrever em versos, como podem fazê-lo numa língua que desconhecem. Além disso, podem ter sido poetas em outra existência. Como já disse, os conhecimentos adquiridos nunca se perdem para o Espírito, que deve atingir a perfeição em todas as coisas. Assim, o que eles souberam no passado lhes dá, sem que o percebam, uma facilidade que não possuem no estado habitual.
21. É o mesmo caso dos que têm aptidão especial para o desenho e a música?
- Sim. O desenho e a música são também formas de expressão do pensamento. Os Espíritos se servem dos instrumentos que lhes oferecem mais facilidades.
22. A expressão do pensamento pela poesia, o desenho ou a música depende unicamente da aptidão do médium ou também do Espírito comunicante?
- Algumas vezes do médium, outras do Espírito. Os Espíritos superiores possuem todas as aptidões, os Espíritos inferiores têm conhecimentos limitados.
23. Por que motivo um homem dotado de grande talento numa existência não o possui na seguinte?
- Não é sempre assim, pois muitas vezes ele aperfeiçoa numa existência o que começou na anterior. Mas pode acontecer que uma faculdade superior adormeça durante certo tempo para facilitar o desenvolvimento de outra. Será um germe latente que mais tarde germinará de novo, mas do qual sempre haverá alguns sinais ou pelo menos uma vaga intuição