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Livros que falam sobre Arte Mediúnica

UM QUADRO MEDIANÍMICO NA EXPOSIÇÃO DE CONSTANTINOPLA.


O presidente da Sociedade Espírita de Constantinopla, membro honorário da Socie- dade Espírita de Paris, nos escreveu o que segue, em data de 22 de maio último:


Caro senhor Allan Kardec e irmão espírita,
Já há muito tempo me propus vos dar minhas notícias, mas não credes, por isso, que haja inatividade na propaganda espírita; ao contrário, há mais atividade do que nun- ca. Por toda parte, crede-o, neste país fanatizado e todo arregimentado nas seitas, o Es- piritismo encontra obstáculos que não existem talvez em nenhuma parte, mas as raízes são tão vivazes e tão produtivas que, apesar de tudo, penetram pouco a pouco e acaba- rão por dar nascimento a rebentos vigorosos, que nenhuma força humana poderá abater.
Constantinopla já conta com numerosos adeptos do Espiritismo, e, posso vos afirmar, nas classes mais elevadas da Sociedade; somente notei que cada um se contém ainda em si de medo de se comprometer.
Permiti-me vos citar um fato que se passa aqui, e que denota até que ponto o Espiri- tismo aqui se inculca: é que várias livrarias que fizeram vir obras espíritas, notadamente O Livro dos Espíritos e o dos Médiuns, os venderam imediatamente, e a quem? Ignoramo- lo, nós Espíritas conhecidos e confessos aos olhos de todos. Temos a certeza desse fato sobre o qual chamo a vossa atenção, porque quando alguns, dentre nós, querem comprar vossas obras, o livreiro lhes responde: "Recebi-as, e as vendi imediatamente." Nós nos perguntamos quem açambarca essas obras quase logo em seu desencaixotamento, e isto ao ponto de que aqueles dos nossos que querem delas se proporcionar, não mais as en- contram?
Eis agora uma outra notícia que, sem dúvida, não vos interessará menos. Nosso amigo e irmão espírita Paul Lambardo, médium desenhista do qual vos enviei algumas flores, executou uma pintura em aquarela representando um belo buquê de flo- res, entre as quais os amadores notam sobretudo uma dália vermelho vivo aveludado de um efeito magnífico; todas as outras flores, rosas, cravos, tulipas, lírios, camélias, marga- ridas, papoulas, dormideiras, amores-perfeitos etc, são de um fino e de um natural perfei-
tos. Impeli-o a apresentar esse quadro à Exposição nacional otomana, aberta neste mo- mento, e o quadro foi admitido com esta inscrição:

DESENHO MEDIANIMICO


Executado pelo Sr. Paul Lambardo, de Constantinopla, a quem as artes de desenho e da pintura são completamente desconhecidas.
Nos tempos que correm, o quadro figura de maneira notável no palácio da Exposi-ção, à direita do lugar reservado aos quadros e gravuras. O preço dele foi fixado em 20
libras turcas ou 460 francos. Notai que se trata de um fato que milhares de pessoas po- dem constatar autenticamente.
Recebo cartas de diferentes pontos da Europa, da Ásia e da África, mas sou sóbrio nas respostas, senão para encorajar o estudo sério e aprofundado de nossa grande e be-
la ciência; depois os remeto sempre às vossas excelentes obras O Livro dos Espíritos e dos Médiuns.
Temos sempre reuniões para as experiências físicas e para os estudos psicológicos; embora as primeiras nos fatiguem quase sempre, não podemos abandoná-las completa-
mente, pela razão de que servem para convencer certos incrédulos que querem ver e tocar.

Apresentai, eu vos peço, à Sociedade Espírita de Paris, os respeitosos e fraternos cumprimentos de nossos irmãos espíritas de Constantinopla, e em particular daquele que
se diz também vosso todo devotado irmão espírita.


REPOS Filho, advogado.


O fato significativo da exposição do quadro do Sr. Lambardo, em Contantinopla, em- bora admitido, ostensivamente apresentado como produto medianímico, é o semelhante das fábulas espíritas coroadas nos Jogos Florais de Toulouse. Diz-se em alguma parte que se a Academia de Toulouse tivesse conhecido a origem dessas fábulas, tê-las-ia re- pelido; é fazer-lhe a injúria; é esquecer, além disso, que os sujeitos enviados a essas es- pécies de concurso não devem levar nenhuma assinatura, nem nenhum sinal podendo revelar o autor, sob pena de exclusão; o Sr. Jaubert não podia, pois, mais colocar o de um
Espírito do que o seu, nem mesmo dizer que elas vinham de um Espírito, porque isso vio- laria a lei do concurso, que quer o segredo mais absoluto. É a resposta àqueles que acusam o Sr. Jaubert de ter usado de fraude guardando o silêncio sobre a proveniência dessas fábulas. O que quer que seja, nas duas extremidades da Europa uma sanção oficial foi dada a produtos de além-túmulo.
Semelhantes fatos bastariam para demonstrar o irresistível poder do Espiritismo, se, aliás, não se tornara evidente por tudo o que se passa sob nossos olhos, há alguns anos, e pela inutilidade dos esforços que se fazem para combatê-lo. E por que esses esforços são inúteis? Porque, como dissemos, há um caráter que o distingue de todas as doutrinas filosóficas, é de não ter um foco único, de não depender da vida de nenhum homem; seu foco está por toda parte, sobre a Terra e no espaço, e se é incomodado de um lado, saido outro; porque, como o disse a Sociedade Espírita de Palermo, ele se afirma e por fatos que cada um pode experimentar, e por uma teoria que tem suas raízes no senso íntimo de cada um. Para abafá-lo, não seria preciso comprimir um ponto do globo, uma aldeia, uma cidade, um país mesmo, mas o globo inteiro; e ainda não seria isso senão uma parada momentânea, porque a geração que se eleva, leva em si a intuição das idéias novas que fará cedo ou tarde prevalecer. Vede o que se passa numa região vizinha onde se coloca sobre essas idéias uma tampa de chumbo, e onde, no entanto, elas escapam por todas as fissuras.

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