LIVRO LIÇÕES DE SABEDORIA
CHICO XAVIER NOS 23 ANOS DE FOLHA ESPÍRITA
MARLENE R.S. NOBRE
Pág. 175
XVI- MÉDIUNS VISITANTES E DA CONVIVÊNCIA UBERABENSE
Era previsível que fatos extraordinários viessem a acontecer naquela noite.
Visitava Chico Xavier, em Uberaba, o conhecido médium Luiz Antônio Gasparetto, que em transe pinta quadros com assinaturas de Renoir, Manet, Toulouse Lautrec, Goya, Delacroix, Tissot, Picasso, Van Gogh, Matisse, Rembrandt, Tarsila do Amaral, para citar os principais da sua extensa galeria. O clima de expectativa era denso, inclusive do próprio Gasparetto que ali teria, mais uma vez, a oportunidade de testar a autenticidade de sua mediunidade pictoricográfica.
Ás 21 horas, terminada a sessão do Grupo Espírita da Prece, Gasparetto ocupa uma das cabeceiras da mesa, ficando ao lado de Chico Xavier. Espalhados sobre a mesa dezenas de bisnagas, lápis, tintas em potes, incluindo lâminas de papel branco tipo cartolina de tessitura especial. Uns breves instantes de preparação e o médium pede música suave e logo um gravador começa a tocar em surdina músicas de Gounod, Donizetti, Haendel e outros. Obtida a incorporação, o espírito manifestante foi Toulouse Lautrec.
Acontecimentos singulares se sucedem com estonteante rapidez. Embebendo os dedos e as palmas das mãos, o sensitivo Gasparetto inicialmente faz como que um borrão na tela, deixando o fundo básico do quadro praticamente pronto. O que irá surgir dali até a conclusão da obra. Um leve toque aqui, ali, o cabelo ganha nitidez, duas pinceladas (sempre com os dedos) mais abaixo formam o queixo, depois o colo, o fundo retocado a pastel giz e temos pronto o primeiro trabalho da noite. Os dedos nervosos e ágeis do médium, habilmente manipulados por estranha força inteligente, dão titulo à bela figura feminina emersa dos borrões: Maria Dolores, com a assinatura do próprio Toulouse. Os assistentes, agrupados num vasto círculo em torno dos médiuns, mantém longo, tenso e cooperador silêncio,. Alguns oram, outros tentam aproximar-se mais para verificar se não há algum tipo de fraude, Chico Xavier, em interiorizado silêncio, com sua visão de inter-existente, acompanha todos os movimentos de Gasparetto.
Contamos no relógio: 59 segundos fora o tempo em que durara o fantástico balé de dedos. Desde os primeiros toques nas bisnagas e retoques a crayon, até a aposição da assinatura do espírito-artista tudo se desenvolveu, inclusive o ritmo veloz, em clima de pulsante espiritualidade. Todos os demais quadros foram feitos em tempo não inferior a 40 segundos e não superior a cinco minutos, exceção apenas para a delicada pintura de Van Gogh, para crescente assombro dos circunstantes. Após uma composição a pastel intitulado Dois Esboços, esta sem assinatura, com Gasparetto em transe profundo pintando duas silhuetas ao mesmo tempo, uma com cada mão, Chico Xavier faz o primeiro comentário: qbiw que se apague a luz da sala: os Espíritos iriam trabalhar no escuro. Um delgado feixe de luz, provindo da lâmpada acesa na saleta do receituário no fim da sala, deixa esta em semi-obscuridade, o suficiente para que pelo menos se distinguisse o vulto, o movimento das pessoas. Chega então a vez do célebre Tissot que, em menos de um minuto, retrata uma jovem senhora, que intitula D. Célia Ramos. As luzes são acesas para que todos possamos admirar a obra de arte e logo tornam a ser apagadas. Flashes de três fotógrafos presentes clareiam a meia escuridão, enquanto o jovem em transe pinta um semblante que aos poucos vai tomando a feição de Cristo. Desta vez o ritmo do trabalho se torna frenético e o traço de raios solares que emanam de sua cabeça é feito com gestos largos, quase que ritmados em cronometrada velocidade. Acesa a luz, a assinatura da autoria é de Leonardo da Vinci. E essa mecânica se sucede por várias vezes.
Chegada a vez de Picasso, o quadro, retratando a figura de alguém postado atrás de algo indefinível, fica sem título. Diz Chico Xavier: Talvez o título seja Espírito Prisioneiro. O personagem está postado atrás das grades. Renoir, o pintor seguinte, retrata um busto a que dá o título de Gustavo. Goya, ao intitular seu quadro de Valtinho, provoca em Chico Xavier o seguinte comentário: Este é Valter Perrone. Depois é a vez de Manet, que pinta a mãe de Chico e dedica o quadro ao médium de Uberaba.
O quadro mais demorado da noite é o de Van Gogh, intitulado Flores. As cores fantásticas de seu estilo impressionista e pós-impressionista são reproduzidas com assombrosa fidelidade. A formosura e delicadeza da tela provocam em Chico este comentário: Sempre que vejo certas flores espirituais, o miosótis, por exemplo, sinto as vibrações que emitem e não posso conter as lágrimas. A artista seguinte é Tarsila do Amaral e Chico, mencionando o nome da pintora antes de aposição da assinatura, acrescenta: Tive o privilégio de assistir à evolução espiritual e artística de Tarsila quando, paralítica, presa a um leito, retratava seus personagens invariavelmente com a cabeça pequena. O estilo. A forma, a filosofia de vida, tudo é Tarsila. Sinto um impacto ao ver o Espírito dessa amiga de pé, manipulando o braço do médium. A pintura, intitulada Auto-retrato, estampa uma mulher deitada, tal como Chico a via nos últimos oito anos de sua existência terrestre.
No escuro vamos rabiscando apressadamente o registro dos diálogos entrecruzados, uma vez que nosso gravador fora utilizado para musicalizar o ambiente.
A pintura seguinte, Ricardinho, é de Matisse, voltando Toulouse a pintar, desta vez, a figura de Cairbar, no mesmo estilo pós-impressionista que caracterizou a fase mais fecunda de sua existência. Segue-se Manet com o quadro Uma Parisiense.
O feito mais notável estava reservado para o final: o balé de gênios se deslocaria das mãos para os pés de Gasparetto. Utilizando-se da ponta dos dedos (dos pés), Luiz Antônio Gasparetto aperta uma bisnaga, depois outra, embebe os dedos na tinta e faz o fundo da tela. Um toque aqui, outro retoque ali, a fisionomia adquire acentuada nitidez, embora com menos facilidade que a pintura feita a mão. Em vez de azulado, o quadro pintado por esse meio, intitulado Senhora, vem com a assinatura de Picasso. Logo Toulouse volta a falar comunicando achar-se ali uma falange de espíritos alegres, fanfarrões ou palhaços. Tissot manipula então os pés do médium e pinta um palhaço com ares de pierrô. Foi o derradeiro trabalho da noite de arte espiritual.
DIÁLOGO DE TOULOUSE LAUTREC / CHICO XAVIER
TL - “Je vous em prie”, apaguemos as luzes. “Merci. C´est mieux”. Aprendi o português ó para o gasto, mas vamos indo. Você está me ouvindo, Chico?
CX - Sim, perfeitamente.
TL - Você sabe que Emmanuel está estudando conosco “teoria da pintura terapêutica de elevação”? Enquanto passamos a ele os conhecimentos adquiridos nesse campo, ele nos transmite os ensinamentos de Kardec. “Merci Allan”.
CX - Assim como temos o que chamaríamos de pintura ou arte patológica, com características sombrias ou de excitação, como a dos doentes mentais que vi em Itapira, temos a que embeleza a vida, harmoniza as emoções e favorece a cura. Justamente em Itapira vi uma tela mostrando mãos em súplica e pensei comigo: Esse artista tem fome do amor que reconstrói.
TL - Por que o homem só usa os pés para andar? Dos pés podemos fazer mãos e as mãos colocamos no bulbo. Estamos à disposição dos médiuns que tenham condições de recepção pictórica. Não preterimos ninguém e, frisar bem, só trabalhamos com médiuns que apresente e mantenha as condições necessárias. Se o médium tem mas perde essas condições, mudamos para outro. Veja, é fácil, combinamos as tintas e o quadro sai. Os incrédulos deveriam ver isso para saber que não morremos. Mas os estúpidos nem vendo não crêem.
CX - Os espíritos têm fluidos teledinâmicos que endereçam ao artista sob a forma de inspiração. Para isso eles não precisam estar presentes.
TL - Embora haja muitas pinturas no mundo, nossa missão é alegrar mais a vida comprovando, sobretudo, que a morte não existe, que nós continuamos, que a vida continua. Fazemos o nosso trabalho em nome da Fraternidade Universal, ressaltando a importância da codificação Kardeciana para os tempos que estão por vir para a humanidade terrestre.
As luzes da sala se acendem e Luiz Antônio Gasparetto volta a ser o jovem de 26 anos, recém-formado em Psicologia, de semblante doce, às vezes demonstrando maturidade, às vezes parecendo incrédulo e mesmo inexperiente, ante a profundidade da própria para normalidade.
REVELAÇÕES QUE FAZEM PENSAR
LAG - Pois é, Chico, aqui o ambiente ajudou mas, quando não encontro um auditório assim, prefiro trabalhar encerrado em meu quarto. Quando estou em transe e alguém me toca, levo um choque.
CX - Quando psicografo livro tenho que estar a sós com o Espírito comunicante. Se me tocam recebo a comoção que de uma corrente elétrica.
Zíbia Gasparetto – Realmente esta concentração ajudou muito. Pretendemos apresentar Luiz Antônio em várias cidades e no Exterior, e temos certos receios. O artista precisa de matéria plástica adequada e em certos auditórios ansiosos por fenômenos há o perigo de que o trabalho sai prejudicado.
CX - Mas vocês sempre irão encontrar, nesses auditórios, quatro, cinco ou seis pessoas, qualquer que seja sua religião, dispostas a orar, enquanto ele trabalha. Lembro-me de que no programa Pinga-Fogo, da TV Tupi, de repente me senti dentro de uma forte corrente de luz e força. Emmanuel explicou-me então que aquilo eram as preces e vibrações simpáticas dos telespectadores. Devo confessar que frente às câmaras de televisão sinto-me nas condições de uma senhora na hora do parto. Mas, vejamos agora, no programa da nossa querida Hebe Camargo, não senti esse envolvimento de focos de luz e soube que, tratando-se de uma gravação em tape, feita com antecedência, faltaram as preces e vibrações. Transportei-me, então, ao casebre de uma mãe aqui em Uberaba que tem uma filha excepcional já adulta. Essa mãe carrega nos braços a filha desde muitos anos. Foi aquele imagem de abnegação e aceitação que me ajudou a suprir a dificuldade. O problema do Luiz Antônio no Brasil é um, no Exterior é outro. Em público o médium tem que agüentar as piores dificuldades sem pestanejar, desde a sede, o cansaço, a falta de apoio do ambiente circundante e coisas assim. Ele, antes dos trabalhos, pode se concentrar como quem vai dar um concerto. Em nosso, meio o ideal é fazer um serviço de isolamento, de preferência lendo e comentando alguma passagem do Evangelho. Isso ajuda muito.
LAG - Trabalho em telas a óleo, cinco, seis, e até mais horas por dia. Já pintei mais de 3.000 telas. Se deixo, os espíritos querem pintar até nas paredes. Disseram-me porém que eu não deveria trabalhar profissionalmente. Só mediunicamente. Mas com o tempo que eles me tomam como é que vou me realizar na prática?
CX - Você pode disciplinar o trabalho, dando a eles um tempo adequado.
LAG - Digo a eles: vocês vivem numa outra realidade, por isso não me compreendem. Van Gogh, por exemplo, exige tintas importadas da Bélgica, da Holanda, e importamos por 7.500 cruzeiros uma bateria delas.
CX - Isso que você gasta convém ressarcir-se. Seria bom se tivéssemos uma espécie de INPS dos médiuns (risos). Temos pois que achar um horário compatível. Vimos que o médium de Uberaba sentia a delicadeza do assunto. Certamente ele estava a lembrar-se do “Daí de graça o que de graça recebeste”. O médium Kardeciano não pode cobrar por serviços advindos dos espíritos.
LAG - Se deixo de trabalhar dois ou três dias me desafino....
CX - Também comigo ocorre que se falho três ou quatro dias, a mediunidade como que perde algo em sensibilidade. Se o intervalo é, vamos dizer, de 15 dias, então tenho que recomeçar. Muitas vezes, ao ler o que os espíritos me ditam, tenho as mesmas reações dos leitores. Isto é, acho este trecho mais interessante que outro, entendo menos este trecho que aquele outro etc. Agora com relação à continuidade, como é que fiz? Com muito treino e prudência busquei conquistar horas no sono. Hoje 3 e ½ a 4 horas me bastam. Após o almoço, fico 40 minutos imóvel, descansando, mesmo que não durma. Nossos amigos espirituais querem muita comunicação conosco. Mas é sempre bom trabalhar com Espíritos que aceitam ou já estejam na disciplina. Os da faixa ubralina, que é muito vasta em torno da Terra nos dois planos, nada querem com regimes disciplinares. Há muitas comunidades umbralinas na Terra, como é o caso dos hippies, embora em plano umbralino todos nós estejamos mais ou menos. Então devemos trabalhar mais para despertar um maior número. Aí está um grande trabalho para Luiz Antônio Gasparetto. A mediunidade, meu jovem médium, é como couro, e para que a palavra perca a primeira letra, temos que pagar um preço elevado e justo. (FW, 10/1976).
GASPARETTO - LIVRO NEM SANTO NEM GÊNIO, Médium.
Vera Regina Marçallo Gaetani
Editora Aquarela
Pág. 31
Segundo o que nos relatou sua mãe, tudo aconteceu no decorrer da reunião. Gasparetto, em estado de transe, começou a ministrar passes magnéticos em todos os presentes, após haver feito vários desenhos e, altíssima velocidade. Depois passou a conversar com outra senhora, também mediunizada, numa língua que ninguém conhecia, e só mais tarde se ficou sabendo tratar-se de um dialeto chinês. Ele tinha apenas 13 anos de idade e, a partir desse dia, nunca mais parou.
Um dia a família foi a Uberaba visitar o médium Francisco Cândido Xavier, que reconheceu, entre os quadros que Gasparetto desenhou para ele, um auto-retrato de Rembrandt. Foi com grande espanto que ele recebeu esta revelação. Embora não conhecesse a obra desse Mestre, naturalmente Gasparetto connhecia-lhe a fama.
Mas outra surpresas estavam-lhe reservadas. Entre as pessoas encontrava-se uma senhora, Dona Alexandra Herrmann que, segundo Francisco Cândido Xavier, teria sido a esposa de Rembrandt e que na época, fora muito amada e retratada por ele. Apedido de Chico Xavier, Gasparetto doou a essa senhora sua primeira obra identificada, o auto-retrato de Rembrandt.
Durante seu trabalho mediúnico, Gasparetto coloca música num volume mais alto que o habitual. É ele mesmo que explica: "Os Espíritos agem sobre meus braços por meio de sua força mental, como as ondas musicais; tenho muitas vezes a impressão de que meus braços acompanham o ritmo da música".
"No início recebo como que um convite telepático ao trabalho. Começo a pressentir a presença familiar de alguns espíritos artistas e seus fluídos. Em seguida, uma forte energia envolve meus braços, deslocando-os em movimentos automáticos, não dirigidos pela minha vontade. Sinto as fibras musculares dos braços como que envoltas por essa força e não consigo dominá-los mais. É claro que existe meu livre arbítrio e se quiser parar, eu paro. Entretanto, como estou à disposição do trabalho, deixo acontecer, eu me entrego e me abandono. Capto, por telepatia, o que os espíritos querem me dizer é uma alegria muito terna mas, às vezes, chego a captar até a impaciência que alguns deles deixam escapar, quando o trabalho não sai como desejam. Terminada a sessão, experimento uma sensação agradável e feliz. As energias doadas são refeitas e me sinto muito bem. Em algumas situações, quando o público se mantém agitado e irrequieto, os ruídos, a falta de silêncio, de harmonia e concentração acarretam-me um maior desgaste".
"O trabalho mediúnico é assim, muito rápido. O mesmo acontece com a escrita automática, vem muito rápida, ou como os médiuns de cura que realizam cirurgias numa velocidade tal que nem o mais hábil cirurgião seria capaz. Com respeito ao meu trabalho, em geral os espíritos pintores apresentam uma obra previamente elaborada no espaço; utilizando minha mediunidade, transpõem para o papel ou tela o que já haviam criado antes. Por outro lado, muitas vezes acontece de eu captar imagens como que impressas em meu cérebro pelo pensamento desses espíritos e meus braços são impelidos, rapidamente, a executar essas imagens recebidas".
Há já algum tempo, quando começou a trabalhar publicamente, Gasparetto entrou num processo de dúvidas que, até certo ponto foi interessante, pois serviu para provar, não só a ele, que seu trabalho é realmente mediúnico.
Passou a imaginar que era ele o artista que realizava todas aquelas obras. O mérito artístico era seu.
Resolveu tomar lições de pintura, a fim de conhecer melhor sua técnica.
Durante esse período, os espíritos dos grandes Mestres o abandonaram, deixando-o ao seu livre-arbítrio.
Após três ou quatro aulas, ele se deu conta de que não tinha nenhum dote natural para essa arte. Seus trabalhos eram medíocres, sem valor estético. Depois de várias tentativas, a tela já recoberta de grossas camadas de tinta, reconheceu que não conseguiria fazer nada de bom. Percebeu que, somente em estado de transe, servindo de intermediário aos Mestres da pintura, é que conseguia realizar as coisas que fazia. Só então Manet se aproximou e, em quinze minutos, pintou uma negrinha toda sorridente. A obra é impressionante! Não só a boca se abre num sorriso, mas os olhos, o rosto sorri por inteiro.
A partir desse dia, Gasparetto colocou-se à disposição do trabalho e os Mestres nunca mais o abandonaram.